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A História do Golpe
Sem crédito de direção  (2018)
Rememoração e campanha, por Carlos Alberto Mattos
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Rememoração e campanha
por Carlos Alberto Mattos

O documentário de 55 minutos foi produzido pela campanha de Dilma Rousseff ao Senado por Minas Gerais em 2018. Não constam créditos da realização. A candidata, contudo, só faz pronunciamento eleitoral nos últimos minutos de cada um dos três atos ("A derrubada de um governo legítimo", "O desastre" e "A prisão de Lula"). Na maior parte do tempo, é uma retrospectiva dos fatos que levaram ao golpe de 2016 e o sucederam.

Em apresentação editorializada por um locutor e uma locutora, A História do Golpe se detém, em seu primeiro ato, no desmentido da farsa montada pelo PSDB, a mídia golpista e o antipetismo para desestabilizar o governo Dilma a partir da oportunidade criada pelas manifestações de 2013 e da decepção causada pela reeleição da presidente. Criaram-se as farsas de que o país estava quebrado e que o governo perdera o controle dos gastos. Vieram, então, as pautas-bomba no Congresso, a rejeição de medidas para enfrentar a crise econômica global, as pressões para que Dilma renunciasse e a sua resistência tenaz na defesa do mandato.

 

Como peça de campanha, o filme não se furta a nomear os vilões e apontar as vilanias diretamente. Traz de volta as chantagens de Eduardo Cunha no Congresso e os áudios conspiratórios de Romero Jucá e de Aécio Neves, que confidenciou: "a ação no TSE para anular a reeleição de Dilma foi só para encher o saco deles". Como também destaca o documentário, o ex-presidente do PSDB, Tasso Jereissati, reconheceria mais tarde os graves erros do PSDB nesse episódio e no apoio ao governo Temer.

 

Um capítulo se abre para denunciar o papel da imprensa no golpe parlamentar, judiciário e midiático. Ganham o devido realce as distorções criminosas do sistema Globo, entre elas a torcida de Merval Pereira pelo impeachment antes mesmo de Dilma ser reeleita. Manchetes são estampadas exibindo toda a parceria da mídia empresarial com as artimanhas golpistas.   

 

O segundo ato, "O desastre", concentra-se nos efeitos do golpe: as reformas, o estabelecimento do teto de gastos, os desmontes nos direitos dos trabalhadores e a abertura para o neoliberalismo que os governos do PT vinham em grande parte barrando até então.

 

Não há entrevistas nem depoimentos, mas apenas declarações e inserções de arquivos do período. Os avanços sociais e econômicos do governo Dilma são rapidamente mencionados, uma vez que os objetivos de campanha eleitoral vinham embutidos na própria rememoração dos fatos ainda recentes.

 

O terceiro ato, "A prisão de Lula", foi aparentemente editado após o primeiro turno da eleição, uma vez que Dilma aparece no final pedindo votos apenas para Fernando Haddad no segundo turno. Ela relembra o discurso de Lula imediatamente antes de se entregar à Polícia Federal, quando falou da repercussão de suas ideias e seus sonhos para além de sua presença física. Dilma alerta os espectadores para os "filhotes da ultra-direita" que então espreitavam o poder.

 

Afora a fala final da ex-presidente, este ato não tem outros depoimentos, mas somente a narração do locutor comparando os golpes de 1964 (a árvore cortada) e de 2016 (a árvore corroída por fungos e parasitas). Fotos e manchetes da imprensa ajudam a relembrar o lawfare contra Lula, a inversão do direito de defesa, as "convicções" usadas em lugar de provas, os vazamentos seletivos da mídia corporativa e outros abusos da operação Lava Jato. Seguindo-se ao golpe viriam seu desgaste moral, com Michel Temer sendo salvo pelo Congresso de acusações de corrupção, a proibição de Lula concorrer à presidência em 2018, sua prisão e as mobilizações internacionais em seu favor.  

 

Infelizmente, os prognósticos de recuperação democrática não se efetivariam. Dilma não seria eleita ao Senado e as eleições de 2018 trariam a extrema-direita ao poder.

Texto escrito especialmente para este site-livro em 12.4.2022.

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