Junho - O Mês que Abalou o Brasil
Direção: João Wainer (2014)
Um agit-prop sem causa, por Carlos Alberto Mattos
Equilíbrio entre solavancos, por Marcelo Coelho
Um agit-prop sem causa
por Carlos Alberto Mattos
Junho - O Mês que Abalou o Brasil, filme da Folha de S. Paulo sobre as manifestações de 2013, é um belo esforço de reportagem. Enquanto o carioca Rio em Chamas se apresenta como um manifesto que requer adesão para apreciá-lo, a contraparte paulista tenta manter uma certa equidistância jornalística e reproduzir a multiplicidade de vozes que se levantaram a respeito dos eventos.
Mesmo sendo independente, Rio é muito mais editorializado que o filme do jornalão. Se Rio é assumidamente amador, Junho (título mais conciso com o qual o filme foi lançado em primeiro lugar) é claramente profissional, beneficiando-se de uma edição de som e imagem espetaculares. E uso esse adjetivo de propósito, uma vez que Junho injeta um certo hype na linguagem, com música propulsiva, piques de ritmo e montagem construtivista, chegando perto do que poderia ser um agit-prop sem causa. É a política como espetáculo, o que também não destoa completamente do espírito ativista em voga.
O ponto em que o filme da Folha nitidamente supera o manifesto carioca é o debate de ideias. Nesse aspecto, Rio estaciona na conversa mole entre amigos, na queixa inócua ou no ensaio desajeitado de interpretar os acontecimentos. Junho, por sua vez, faz alguma autocrítica da imprensa e pinça falas sugestivas de várias correntes, oferecendo assim uma dimensão mais ampla do movimento, com todas as suas contradições, voluntarismo e boas intenções iniciais. Só o fato de mostrar o conservador Luiz Felipe Pondé e o psolista Vladimir Safatle falando praticamente a mesma coisa já evidencia uma perspicácia bem interessante.
>> Publicado originalmente no blog carmattos em 14.6.2014.
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