Manifesto Fílmico
Direção coletiva (2021)
Curtas de guerrilha, por Carlos Alberto Mattos
Curtas de guerrilha
por Carlos Alberto Mattos
Um grupo de cineastas realizou e divulgou uma coletânea de dez filmes curtos, de cerca de cinco minutos cada, que expressam desconforto com o quadro atual da política no Brasil e suas consequências sociais. Segundo seus realizadores, o fio condutor é "o chamado à resistência ao bolsonarismo, ao fascismo e ao autoritarismo. Trata-se de um panfleto cinematográfico contra tudo o que temos presenciado desde o Golpe Parlamentar de 2016."
Manifesto Fílmico traz experiências variadas com a linguagem do cinema político – do depoimento direto para a câmera à polifonia de vozes e imagens, passando pela performance circense e pela confrontação de conceitos contrastantes. O trabalho coletivo de diretores e produtoras paulistas teve produção executiva de Diomédio Piskator.
A voz grotesca de Bolsonaro se destaca em vários episódios que expõem sua retórica fascista. Esse é um traço do documentário político recente que o crítico Bruno Carmelo analisou com perspicácia neste artigo. Vencendo-se esse estorvo desagradável, bem como certas trips experimentais mais entrópicas, encontram-se vários lampejos de relevância.
O veterano cineasta e professor Sérgio Santeiro, já inflamado pela cerveja, esbraveja num bar contra os fascistas que colocaram "o velho na solitária", referindo-se a Lula, então detido em Curitiba. João Batista de Andrade, ex-ministro do governo golpista de Michel Temer, caminha perplexo com sua câmera ou diante de outra em meio aos festejos de Ano Novo de 2019 na Avenida Paulista, ouvindo celebrações da vitória de Bolsonaro. A ativista e vendedora de tapioca transexual Pauleth Araújo, hoje suplente de vereador, aponta a violência provocada pelo discurso de ódio de Bolsonaro e o descaso dos governantes com sua região no interior de São Paulo.
O professor José Correa Leite (ex-militante do PT e membro fundador do PSOL) discorre sobre o quadro político e econômico no Brasil durante os anos em que o PT esteve no poder, e sobre como a direita se aproveitou das manifestações de 2013 para derrubar Dilma Rousseff. No contraponto, imagens de O Desafio e Terra em Transe. Por sua vez, os atores Débora Munhyz (dama do cinema da Boca do Lixo) e Paulo Márcio Arapuan atuam como palhaços em textos de Nelson Rodrigues sobre a tomada do poder pelos idiotas.
Essa reunião de desabafos e criações de guerrilha tem na diversidade sua força e também sua debilidade. Mas deve ser apreciada no que tem de melhor: a disposição para reagir ao massacre que a democracia e a cultura brasileiras estão vivendo nos últimos seis anos.
Por um Manifesto Fílmico
Para nós, o cinema é a mais importante de todas as Artes.
Fizemos um filme sem grana e livre.
Filmamos tudo pela metade da metade do preço.
Onde houver um elemento antibolsonarista lá estaremos.
Entre a repressão interna e a censura econômica, aprendemos a melhor lição.
O artista deve manter sua liberdade diante de qualquer circunstância.
Arte revolucionária é a palavra de ordem no limiar do século XXI e de suas trevas.
Caverna ir/real e presente no labirinto da ir/realidade do mundo desvirtual
contemporâneo.
O terceiro mundo vai explodir e quem estiver da headphone não sobra.
Audiovisualistas do universo, do planeta Azul, da América Latina e de Pindorama:
Uni-vos!
Grupo Manifesto Ação Direta
>> Texto escrito especialmente para este site-livro em 8.9.2022.