Vozerio
Direção: Vladimir Seixas (2015)
Painel de vozes rebeladas, por Carlos Alberto Mattos
Junho no plural, por Vinícius Andrade
Painel de vozes rebeladas
por Carlos Alberto Mattos
Um índio filma do topo da Aldeia Maracanã. Um repórter grava a si mesmo enquanto é levado preso dentro de um camburão da polícia. Um editor trabalha imagens na ilha fumando um baseado. Um cartunista rabisca uma cena de manifestação. Lances como esse definem o espírito de Vozerio. Em foco, não apenas as ações de protesto anticapitalista que tomaram o Rio em 2013, como também diversos processos de formação de conteúdo audiovisual, gráfico e artístico sobre e a partir do movimento.
Tendo a resistência da Aldeia Maracanã como ponto de partida e de chegada, o filme é um painel de vozes rebeladas contra o sistema financeiro, a democracia representativa, o estado policial e a lógica burguesa. Falam desde um esquerdista veterano como Silvio Tendler a um militante anarquista como Luís Carlos Alencar, cineasta e parceiro do diretor Vladimir Seixas. Participam ativistas, performers radicais, fotógrafos e artistas engajados. Nem todos conclamam diretamente à rebelião popular e à chamada ação direta, assim como poucos apresentam suas ideias de forma objetiva e coerente, mas esse é inegavelmente o tom predominante. Estamos em algum lugar entre a reportagem simpatizante e o filme participante.
Como registro dos acontecimentos de 2013 na cidade, Vozerio chega um bocado atrasado, mas tem a vantagem de ser talvez o melhor conjunto de flagrantes dos conflitos de rua reunido até agora. Tratadas e editadas com qualidade e vigor, essas cenas ainda podem assombrar, incomodar ou entusiasmar, conforme o perfil político de cada espectador.
>> Publicado originalmente no blog carmattos em 26.11.2015.
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